O retorno do Talibã sob a perspectiva da Astrologia Mundana

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O retorno do Talibã sob a perspectiva da Astrologia Mundana

Antecedentes


Com a expansão soviética no Afeganistão nos anos 80, os Estados Unidos, em cooperação com o Paquistão, formaram milícias dentro do país a fim de combater as tropas comunistas que estavam se instaurando. Assim que as tropas da então URSS se retiraram, o Afeganistão se viu envolto em acirradas disputas internas, tanto em relação aos grupos que se fragmentaram quanto em relação ao governo vigente, que representava os interesses soviéticos. O Talibã surge exatamente nesse contexto, mais especificamente em 1994, quando um grupo mulçumano se organizou para controlar as tensões no país sob a liderança de um dos principais membros que haviam participado das milícias anti-URSS, Mohammed Omar, aquele que se tornaria presidente do Afeganistão anos depois.


Tudo isso acontece no período da Grande Conjunção de Júpiter e Saturno em Libra (ar), ocorrida logo no início dos anos 80. Júpiter e Saturno se alinham a cada 20 anos e, ao longo de 240 anos, o encontro se dá em signos da mesma triplicidade (terra, água, fogo ou ar), marcando ciclos responsáveis por representar movimentos significativos na História, com influências ideológicas e culturais específicas, novas religiões e ascensão de dinastias (entenda mais aqui). Até então estávamos vivendo um grande ciclo de Grandes Conjunções (GC) em signos de terra (desenvolvimento do modo de produção capitalista, consolidação dos EUA, intensificação da intervenção na natureza, filosofias materialistas etc), e tivemos nos anos 80 uma interpolação (o que normalmente ocorre entre o final de um período e começo de outro) do ciclo de ar; lá no início dos anos 2000 vimos a última GC em terra e finalmente, em 2020, entramos oficialmente no ciclo do ar com a GC em Aquário.


O Talibã aparece como um novo centro de poder de grande impacto geopolítico. Após apoiarem a Al-Qaeda de Osama bin Laden, responsável pelo ataque às Torres Gêmeas, os EUA invadiram o Afeganistão e derrubaram o regime do Talibã no ano de 2001, no subciclo da Grande Conjunção em Touro, a que encerraria o ciclo da terra por definitivo.


O retorno

Em dezembro de 2020, tivemos o começo oficial do Grande Ciclo de Ar, que será desenvolvido pelos encontros de Júpiter e Saturno nos signos de Gêmeos, Libra e Aquário nos próximos dois séculos. Como bem observado pelo astrólogo Yuzuru, uma das características dessa “Era” provavelmente será o deslocamento definitivo do eixo de poder do Ocidente para o Oriente, com destaque para a China (que, aliás, começou seu boom econômico nos anos 80). Isso pode ser constatado pela combinação do contexto social, político e econômico com os marcadores de tempo da Astrologia Mundana. 

Voltando ao Afeganistão, desde o governo Trump os EUA já anunciavam o interesse em retirar as tropas americanas do país, mas a saída definitiva se deu apenas com o governo Biden em maio de 2021, quando naquela ocasião Marte, um significador de militarismo, estava em queda (grave debilidade essencial) no signo de Câncer. O trânsito de Marte em Câncer está associado a esse tipo de evento (no mesmo dia, a Rússia retirou seu exército da Ucrânia) e ao terrorismo, já que representa ataques covardes motivados por sentimentos reprimidos e antigos. As investidas do Talibã ganharam força desde então, e pouco a pouco o grupo foi conquistando as cidades afegãs até tomar definitivamente seu poder no dia 15 de agosto de 2021.


Cabe aqui observar o Ingresso Solar em Áries (ISA), o “mapa do ano”, do Afeganistão:

A configuração do mapa, em termos de posicionamento de planetas por signo, é a mesma para todos os países do mundo, afinal o ano novo astrológico acontece para todos. O que muda – fazendo toda a diferença – é o Ascendente (e com isso a maioria dos lotes árabes e a posição dos astros por casa) e o grau da Lua. No ISA apresentado acima é gritante a oposição estreita que Saturno em Aquário forma com o grau do Ascendente, ponto que representa o povo e a condição geral do país. Saturno em  Aquário expressa com primazia seu papel de conspirador (pense que Sol-Leão é o poder estabelecido e Saturno-Aquário é aquele que visa destronar o Sol). Além de tudo, recebe um forte trígono de Marte, este potencializado pela estrela bélica Aldebaran e pela conjunção com o Nodo Norte. O Sol, regente do Ascendente, está exaltado (condição que expressa exagero) na casa 9 (a Casa de Deus), anunciando a retomada do fundamentalismo religioso. Complementando, a Vênus, regente do MC (governante), está na 8 (destruição) em contra-antíscia (oposição oculta que ocorre a partir da projeção de graus de determinados signos) com o Sol. 


Ainda neste mapa, o Lote do Espírito (Asc + Sol – Lua, cálculo diurno) está a 25º de Touro, conjunto à estrela Algol. Segundo Guido Bonatti, o Lote do Espírito está associado, dentre outras coisas, à religião. A Algol, por sua vez, é também conhecida como O Olho do Demônio, sendo prenúncio de medos extremos, enforcamentos, paralisias etc. Na Astrologia Mundana, a Algol costuma trazer abalos significativos no poder e na vida social. Na Lua Nova que precedeu o suicídio de Getúlio Vargas, por exemplo, ela estava perfeitamente oposta ao Meio do Céu. Outro exemplo, foi a lunação a 26º de Touro que precedeu a grande greve dos caminhaneiros de 2018, “estrangulando” as rodovias do país ao longo de nove dias. 


Os autores persas e árabes, responsáveis pela teoria que estou mobilizando neste artigo, recomendavam a observação do ISA anterior à Grande Conjunção para entender melhor como o ciclo afetaria o país. Vejamos o ISA de 2020:


A Grande Conjunção de Júpiter e Saturno em Aquário, que viria a acontecer no fim do ano (ou seja, no período do mapa vigente) se sobrepôs à casa 10, vinculada ao poder, ao passo que Saturno está regente a 9 (religião). Nesta carta, o Ascendente está a 26º de Touro, alinhado a Algol como o Lote do Espírito do ISA de 2021. Essa mesma estrela estava conjunta a Saturno em Touro no ISA de 2001, quando o Talibã havia se aliado a Al-Qaeda.


Depois dessa análise, a conclusão que chego, por enquanto, é a de que o Talibã veio para ficar, mas não sem retaliações, claro. Aquário – o grande palco das próximas duas décadas devido a GC de 2020 – é um signo complexo de se entender. Na minha visão, ele é o signo mais “relacional” de todos, porque suas representações dependem mais do contexto do que de uma essência, afinal é um signo que dá exílio ao Sol (a verdade fixa). Neste sentido, Aquário pode trazer à tona movimentos extremamente conservadores, por ser um signo fixo do ar. Ele sempre desafia o poder vigente, mas não necessariamente para colocar algo melhor. Ao mesmo tempo que favorece a inversão das situações, favorece os conspiradores e aqueles de intenções secretas. Na tradição, Aquário é considerado um signo contrário à religião e à vontade divina, e isso pode se dar por vias religiosas. Penso, porém, que o debate sobre a importância do Estado Laico vai ganhar fôlego nos demais países do mundo, como uma clara reação ao fundamentalismo talibã. Na China, cuja influência vem se expandindo, a vigília para que as religiões não dominem a esfera pública é levada a sério. O mesmo pode acabar ocorrendo com outras regiões. 


Guilherme de Carli