Xadrez – uma ode a Mercúrio

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Xadrez – uma ode a Mercúrio

O xadrez definitivamente não é um jogo qualquer, não à toa é considerado esporte, arte e ciência ao mesmo tempo (e alguns acrescentariam a linguagem). Na Astrologia, o planeta que enlaça esses três domínios é Mercúrio, símbolo do Entendimento e da Inteligência. Você deve estar acostumado a ver Mercúrio associado somente às atividades intelectuais, o que por si só já o convence da relação deste astro com o xadrez, mas Mercúrio também colabora com os temas artísticos, tal qual a poesia – basta lembrar dos poetas que articulavam meticulosamente as palavras e as rimas para organizá-las em estruturas coerentes ao longo da obra, como Camões fez em Os Lusíadas e seus 8816 versos decassílabos e 1102 estrofes de oito versos – ou mesmo a música, que envolve toda uma matemática de notas e tempos. Além disso, colabora também com os temas esportivos – a bem dizer é Mercúrio, e não Marte, que é tradicionalmente associado aos atletas, exceto no caso de esportes radicais ou muito violentos. Por essas razões, temos o xadrez como um jogo que manifesta perfeitamente as inúmeras facetas de Mercúrio, mas não para por aí.


O tabuleiro de xadrez possui 64 casas, um dos números mágicos associados a Mercúrio, inclusive sendo esta a quantidade de números do quadrado mágico mercurial, utilizado desde o século VII entre persas e árabes (talvez até antes) e muito útil à magia astrológica.

Quadrado mágico de Mercúrio

Composto de casas e peças brancas e negras, o xadrez nos remete à dualidade de Mercúrio, único dos astros que pode ser diurno ou noturno. De modo bem geral, os Peões são as peças de menor valor do jogo, mas quando próximas de chegar ao lado oposto do tabuleiro, a um passo de se promoverem – normalmente para uma poderosa Dama -, tornam-se a prioridade daquele momento na partida. Tal imagem se assemelha à transitoriedade de Mercúrio, que pode ser o astro mais debilitado no céu (quando está em Peixes, seu detrimento e queda) e o mais digno (quando está em Virgem, seu domicílio e exaltação).


Obviamente, o xadrez é um fenômeno em que a lógica se faz indispensável, mas muito se engana quem pensa que não há espaço para a criatividade, afinal são bilhões de possibilidades de se fazer os primeiros quatro movimentos do jogo e outras quatrilhões nos demais. É um número simplesmente absurdo! (curioso a palavra “absurdo” vir de uma descrição de um jogo de raciocínio lógico, diga-se, mas isso combina bem com um planeta que se desdobra em tantas partes e ainda assim – ou melhor, e por isso – rege a inteligência). Só consigo pensar o quanto o xadrez retrata, de alguma forma, a própria noção de destino enquanto uma rede entrelaçada por fios que se cruzam a partir de várias direções, de modo que uma pequena mudança em um fio ecoa em todos os demais. Seja como for, Mercúrio é responsável pelo o que eu chamo de “criatividade lógica”, aquele que ocorre obedecendo às regras do funcionamento das coisas. 


É muito interessante observar o mapa natal dos Grandes Mestres (GM) da história para entender como a configuração astrológica espelha o estilo de jogo de cada um. Certamente, Mercúrio cumpre um papel central neste assunto, seguido da Lua, do regente do Ascendente e da casa 5. E você vai encontrar nomes importantes com Mercúrio nos mais diferentes signos, não se limite a isso, porque quando faltar dignidade essencial, o mapa apresenta alguma dignidade acidental como recepção mútua, fase etc. Neste sentido, o signo de Mercúrio ajuda a entender como o jogador estabelece suas estratégias. O ucraniano Vasyl Ivanchuk, por exemplo, possui Mercúrio em Peixes (duplamente debilitado), mas é um jogador conhecido por causar uma verdadeira confusão no tabuleiro, tamanha a sua capacidade de pensar fora da caixa, porém tal astro se encontra em “fase heliacal”, condição extremamente afortunada que traz uma compensação e tanto àquela debilidade: as confusões, dessa maneira, têm sentido. Os GMs brasileiros Rafael Leitão e Krikor Mekhitarian também possuem o Mercúrio em fase, mas nos signos de Sagitário e Escorpião respectivamente. O atual campeão mundial, o norueguês Magnus Carlsen, carrega a mesma condição, porém Mercúrio está em Sagitário regido por um Júpiter em recepção mútua com o Sol (Júpiter em Leão e Sol em Sagitário). Mas claro, há muitos jogadores com Mercúrio em Virgem, como o iraniano Ehsan Ghaem-Maghami, o recordista mundial de simultâneas que jogou contra 604 jogadores de uma vez e venceu 580.


Uma curiosidade, todos os exemplos acima, exceto o Ivanchuk, possuem a Lua exaltada em Touro!!


Enfim, o xadrez é uma ode a Mercúrio, o símbolo máximo da mente humana. Além de arte, esporte, ciência e linguagem, xadrez é magia.

Guilherme de Carli
Astrologia Tradicional Contemporânea