Muito se engana quem pensa que os autores tradicionais da Astrologia não se preocupavam em entender as questões que hoje chamamos psicológicas ou referentes à personalidade, ou seja, tudo aquilo que concerne às disposições comportamentais, psíquicas, cognitivas e sensíveis do ser humano. Para além do temperamento e da qualidade da alma, assunto para outra ocasião, encontramos na tradição estudos sobre o que podemos denominar “governantes da mente”. Definir o conceito de mente não é uma tarefa fácil, mas poderíamos simplificar dizendo que a mente é manifestação abstrata do nosso ser, contendo as faculdades intelectuais e emotivas que nos permitem aprender, interpretar e reagir às coisas do mundo, influindo no próprio corpo. Nesse sentido observamos que a mente não é um todo homogêneo, mas possui partes ou camadas com suas próprias funções. Na Astrologia Tradicional, os governantes da mente são essencialmente Lua e Mercúrio, sendo a Lua a detentora da parte emocional, imaginativa, inconsciente e instintiva, regendo também memórias, aspirações íntimas e sonhos, enquanto Mercúrio seria o detentor da parte racional, lógica e linguística. Encontrar uma boa relação entre ambos, sem a interferência de aspectos tensos de Marte e Saturno ou das casas maléficas, indica uma mente fluida, coerente e harmônica, enquanto relações tensas indicariam conflitos, confusões e certo desordenamento. Os signos e dispositores (regentes) representam a expressão de cada uma dessas esferas, trazendo variabilidade e complexidade para a mente. O significador acidental, por sua vez, seria o Ascendente e seu regente, tendo ele um vínculo maior com a própria atuação do nativo no mundo. Os planetas eventualmente posicionados no Ascendente ou em aspecto de até 3º com ele lapidam nossos trejeitos, maneiras e naturezas. Apesar das casuais contribuições, são esses três pontos (Lua, Mercúrio e Ascendente) que “puxam o carro” da nossa personalidade, hoje tão resumida ao Sol (que nem sempre participa dessa configuração nem como colaborador). É curioso pensar que dois desses elementos – Ascendente e Lua – também significam nosso corpo físico, demonstrando um vínculo entre mente e corpo que passou a ser fragmentado desde o Iluminismo.
Guilherme de Carli