“Alea jacta est.”
Após um ano atravessando as densas águas de Escorpião, onde a verdade e a Justiça foram execradas pela sujeição ao poderio de Marte, Júpiter finalmente retorna ao seu domicílio diurno, o signo de Sagitário, podendo a partir de agora tomar as rédeas de seu próprio destino. Há um ano atrás, quando o Grande Benéfico ingressou em Escorpião, escrevi que, por estar em signo fixo, haveria dificuldade na flexibilização das visões de mundo, que tenderiam a se fechar e se aprofundar em seus próprios termos. Convencer e debater seria cada vez mais difícil porque, neste signo, Júpiter se tornaria competitivo e estratégico, manipulando os fatos a seu favor. Vivemos um acirramento das perspectivas unilaterais e da distorção e o silenciamento da verdade, uma vez que Escorpião é um signo mudo. Sob o poder de Marte, as ideologias foram instrumentalizadas para uma espécie de guerra sem fim. Foi um ano bastante complicado. A Lua, que rege o povo e o fluxo dos acontecimentos mundanos, quando escapava de Saturno em Capricórnio se deparava com Júpiter em Escorpião, dois planetas em signos de debilidade lunar.
O ingresso de Júpiter em Sagitário deveria ser um sinal de esperança: quando tudo parece ruir, caem as bênçãos dos céus. Contudo, não podemos esperar avanços significativos porque este transito acompanha um maléfico domiciliado, somado ao fato de que Júpiter ingressou em Sagitário no momento em que Capricórnio estava ascendendo no horizonte leste do Brasil, deixando Saturno bem mais forte para manifestar sua natureza austera. Segundo o antigo astrólogo romano Firmicus Maternus, quando Júpiter está na casa 12 e há um maléfico no Ascendente, devemos esperar por má fortuna e poderes ocultos que prejudicam o povo. Não podemos subestimar, contudo, os bons auspícios de um benéfico dignificado: ele, que rege o conhecimento, os professores, a justiça, a sorte, a prosperidade e o pensamento sofisticado, há de trazer proteção, revelações e o despertar da consciência humana. Como Júpiter está na antíscia do Lote da Fortuna neste mapa, é possível conquistar espaço, vitórias e ganhos aparentemente impossíveis. O grande papel de Júpiter em Sagitário, por conta do mapa gerado a partir do seu ingresso, não será o de indicar um período de expansão e alegrias, mas de mitigar os males de Saturno e salvar os marginalizados, já que se encontra na décima segunda casa. Por este mesmo motivo, ele também pode representar a ocultação daqueles que lutam pelo conhecimento.
Haverá momentos de reveses muito positivos: Júpiter é o único capaz de anular os males de Saturno e, estando o primeiro em Sagitário e o segundo em Capricórnio, em certos pontos do trânsito eles formarão antíscia entre si, uma espécie de conjunção oculta que acontece na relação de certos graus de determinados signos. Será como encontrar um oásis no deserto.
No mapa do ingresso de Júpiter em Sagitário, a Lua está fora de curso em oposição a Algol, estrela fixa associada a decapitações, sufocamentos e ansiedades. As coisas podem fugir muito do controle e serem levadas à queda. Há outro ponto positivo, e que dá novamente destaque para mulheres, que é a presença de Vênus domiciliada em Libra na casa 10. A pequena e o grande benéfico domiciliados pela orientação, conciliação e reversão de processos. Deve-se considerar, também, que Júpiter poderá ser mais efetivo do que nos últimos anos para os mapas individuais, já que ele tem mais poder em Sagitário do que na maior parte dos signos.
Veja em qual casa se encontra Sagitário em seu mapa e observe: a) as condições de seu Júpiter natal; b) a presença de planetas em Sagitário e c) as características da casa em questão. É preciso também, para que haja a maior benevolência possível, que Júpiter seja cronocrator do seu ano, ou seja, regente do tempo.
Em tempos de Júpiter em Sagitário e Saturno em Capricórnio, o lema é: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”- Ariano Suassuna
Guilherme de Carli
ps: A casa 12, vale lembrar, simboliza as ocultações, os segredos, as prisões, o exílio, os inimigos e o inconsciente.