O fim de um ciclo de Saturno em Virgem e o início do ciclo de Júpiter em Libra

Desta vez vamos falar um pouco sobre a Dawr, um ciclo da astrologia clássica mundana caracterizado pela combinação de um dos sete astros tradicionais com um dos 12 signos do zodíaco. De acordo com Abu Mashar, astrólogo persa (séc VIII) fundador dessa técnica, cada Dawr é um período com duração de 360 anos, totalizando 30240 anos no total de todas as combinações possíveis. O ano de 2020 foi “especial” porque ele finalizou ao mesmo tempo dois grandes ciclos mundiais: um de 240 anos, marcado pelas Grandes Conjunções de Júpiter e Saturno na triplicidade da terra (sobre o qual já escrevi), e outro de 360, que é a Dawr de Saturno em Virgem. O período recém encerrado em questão teve início em meados do século XVII, criando o cenário onde se deu a Revolução Científica e posteriormente a Industrial, reforçadas pelas Grandes Conjunções em terra a partir do século XIX. Saturno é um astro de natureza maléfica devido ao seu excesso de secura e frio, qualidades naturais que se traduzem em aspereza, enrijecimento, recolhimento, rigor e dureza. É um astro distante e inimigo natural do Sol e da Lua, pois construiu suas moradas em Capricórnio e Aquário, signos opostos à Câncer e Leão. Virgem, por sua vez, é um signo térreo e infértil que oferece dupla dignidade ao Mercúrio, astro da razão e da inventividade. O longo ciclo apresentou a decadência gradual das monarquias (Sol) e a consolidação dos Estados burocráticos modernos, a separação dos três poderes, o advento da ciência, a dominação predatória da natureza, a perda da biodiversidade, a criação das máquinas e dos métodos etapistas de produção, a supressão de saberes tradicionais e os movimentos eugenistas dos séculos XIX e XX, que tinham ideais discriminatórios de “limpeza”. Pensemos que, para chegar a essas conclusões, temos que deduzir como Saturno se revelou através das características virginianas em nossa História. A Dawr, como todo grande ciclo, é como um plano de fundo onde uma diversidade de eventos – boa parte definidos pelas escolhas político-sociais das elites dirigentes – ocorrem, tendo sua simbologia expressa por cada cultura e regime existente. Descrevê-la é sempre um processo limitado de nossa parte, mas necessário na medida em que ajuda na compreensão simbólica do movimento do mundo.

Encerrada a Dawr de Saturno em Virgem em 2020, um novo período começa a se estender pelos próximos 360 anos. Enquanto a época anterior foi regida por um maléfico num signo mercurial, sendo Mercúrio um astro de natureza neutra, o próximo será governado por um benéfico em signo venusiano, sendo a Vênus também um astro benéfico. É claro que, tratando-se de Astrologia Mundana, devemos analisar essa técnica ao lado de um outro marcador de tempo (como as já mencionadas Grandes Conjunções de Júpiter e Saturno, que definem ciclos de 240 anos) e pensar que existem particularidades a todo momento em razão de eclipses, ingressos, trânsitos e afins, mas de qualquer modo já podemos deduzir que o ciclo a surgir tende a ser melhor do que seu antecessor. O curioso é que Júpiter e o signo de Libra possuem algumas características em comum, embora só estejam relacionados por triplicidade. Ambos agem no sentido de pacificar e unir por princípios de equidade e justiça. Se eu tivesse que definir esse período em uma palavra, eu usaria “restaurador”. Júpiter em Libra vem para sanar as mais profundas feridas sociais do mundo, colocando peso no braço mais levantado da balança para que ela possa se horizontalizar. Isso não significa que velhos problemas vão desaparecer, mas talvez deixem de ser estruturais. Além disso, Júpiter versa sobre conhecimento, e em Libra fica mais orientado para a partilha e troca de saberes. Um novo sistema jurídico deve aparecer, desta vez mais orientado para a ressocialização do que para a punição e com novas perspectivas de lei. Júpiter, um significador de prosperidade, torna-se mais descentralizado em Libra, podendo distribuir melhor as suas riquezas entre as pessoas. A única desvantagem que vejo para o período seria algo alinhado à Grande Conjunção em Aquário que inaugura o ciclo do elemento ar em dezembro de 2020. Tanto Libra quanto Aquário conferem debilidade ao Sol, e se por um lado isso é interessante para contrapor o status quo e o poder centralizado, por outro lado há um deslocamento das qualidades solares (relativas ao Espírito) que podem tornar as pessoas muito apagadas frente à própria intuição, vocação superior e às forças de seu “Eu”, gerando uma falsa ideia de liberdade devido à hipervigilância e à formação da identidade com base nos estímulos programados que recebemos das tecnologias que utilizamos, algo que já vem se desenvolvendo desde a última década (ouça meu podcast sobre isso aqui ). Ainda assim, creio eu que seja uma fase necessária para reorientar o movimento da nossa história na Terra.
 
Guilherme de Carli

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