O caráter sagrado e espiritual da Astrologia a ela pertence independentemente de dogmas de qualquer espécie. Trata-se de uma sabedoria antiga desenvolvida por diferentes povos (árabes, persas, egípcios, gregos etc) ao longo do tempo, nascida em uma época em que a visão de mundo do ser humano não era enrijecida pelo materialismo nem desaterrada pelo misticismo. Assim, começo este artigo com a finalidade de contribuir para um debate muitas vezes dominado por duas frentes: uma, a de céticos que buscam descredibilizar a Astrologia negando, pela ciência, a influência dos astros na vida humana e outra, a de pessoas que encaram a Astrologia de forma muito esotérica e acreditam nessas tais influências cósmicas. A primeira acerta ao provar que não existe influência dos astros na vida humana (ao menos no que tange o comportamento e acontecimentos cotidianos), mas erra ao achar que isso é um ataque à Astrologia; já a segunda sustenta a Astrologia por algo que ela não é, permitindo que ela seja pseudo refutada pelos céticos.
Nos últimos anos, a Astrologia tem passado por um processo de mercantilização, esvaziando seu sentido ao ignorar seus fundamentos e simplificar relações complexas para padronizá-la ao grande público. Ao invés de informar e democratizar este antigo saber, o que ocorre é uma distorção absurda de suas pesquisas para conquistar as pessoas pelos caminhos do ego. O desafio do astrólogo contemporâneo é encontrar um modo de disseminar a informação, de modo a torná-la acessível ao público leigo, sem corromper sua essência. Poucos têm realmente conseguido isso, já que “conhecimento” fácil e mastigado faz mais sucesso e chama mais atenção. Passaram-se os anos e já passamos a colher as consequências desta mercantilização. Uma delas, é a redução da Astrologia em termos de signos, entendidos ora como energias ora como agentes capazes de sentir inveja, amar, organizar e afins, enquanto os planetas foram destituídos de qualquer ação.
É importante deixar claro que signos não são energias, mas conjuntos de características que são formadas a partir dos quatro elementos (água, fogo, terra e ar), das quatro qualidades primitivas (quente, seco, frio e úmido) e das três modalidades (fixo, mutável e cardinal). Essas divisões provêm dos ciclos da Terra, as quatro estações, além da própria condição da natureza passível de observação. Foi assim que os signos foram pensados. Às vezes falamos deles como energia, mas por pura linguagem poética, para dar vida aos textos. Signos também não são constelações, por isso sempre serão 12 ainda que a Terra mude sua relação com as estrelas. O que importa, no final das contas, é o posicionamento dos planetas ao longo da eclíptica. Mas, se signos não são energias, como os astros nos influenciam? Simples, os astros não influenciam nada nem ninguém. Não há relação de causalidade entre o que acontece no céu e o que acontece na Terra, mas de espelhamento: tudo o que está em cima corresponde ao que está embaixo, ou como diz a sagrada oração cristã, “assim na Terra como no Céu“. Ao ler o Universo, leio a mim mesmo, e ao ler a mim mesmo, leio o Universo. A Astrologia sempre foi um estudo de símbolos! Por isso, cabe ao astrólogo interpretar esses símbolos colocados em dinamismo no Cosmo para melhor compreender a vida humana, e o contrário também é possível.
Guilherme de Carli
Segue um texto interessante de Helena Avelar e Luís Ribeiro
“Quando um astrólogo interpreta uma carta natal, “lê” um conjunto de símbolos. Este representam, entre outras coisas, a posição relativa dos planetas e signos. A partir da interpretação destes símbolos, vai compreendendo, a níveis cada vez mais profundos, a dinâmica interna do indivíduo ou acontecimento ali representado.. Por outras palavras: o astrólogo “lê” nos céus o que se passa na Terra.
Porque é que na interpretação astrológica, a posição dos astros nos céus representa a dinâmica interna de um ser humano ou de um acontecimento?
Porque é que as estrelas e os planetas, nos “falam” de coisas que se passam sobre a Terra? Em resumo: porque é que as estrelas “falam” de nós?
A interpretação astrológica parte do princípio de que “o que está em cima é como o que está em baixo”. Significa isto que existe uma relação simbólica entre a posição relativa dos astros nos céus (o que está em cima) e a vida humana (o que está em baixo). É a relação entre o Todo e a Parte: o ser humano é, em pequena escala, um reflexo dos céus.
Influência ou símbolo?
Importa realçar que este conceito nada tem a ver com as supostas “influências” (gravitacionais ou outras) que os corpos celestes possam ter sobre a vida no nosso planeta. Não se trata de “raios misteriosos”, trações gravitacionais, radiações ou quaisquer outras “influências” que os planetas projetem sobre nós.
Em Astrologia, a relação entre o Todo e a Parte não é física mas simbólica.
Quer isto dizer que a posição relativa dos astros nos céus é, em si mesma, um símbolo: representa um momento específico, com toda a sua dinâmica de probabilidades. A pessoa que nasceu naquele momento, terá, portanto, uma relação direta com o que ali está representado. Ela é, de certo modo, uma “encarnação” daquele momento; é, por assim dizer, o momento em forma humana. Ao longo da vida, a pessoa irá “desenrolar” as probabilidades ali representadas e deparar-se com os obstáculos ali descritos.
Consciência e Liberdade
Existe ainda um terceiro – e importantíssimo – aspecto nesta equação: a consciência.
Assim, num mapa natal, é o grau de consciência pessoal que vai determinar até que ponto cada indivíduo está condicionado.
Quanto maior for o grau de consciência de si mesmo e do Todo, maior será a possibilidade de escolha pessoal, maior será o grau de liberdade (o tão falado livre-arbítrio) e menor será o condicionamento ditado pelo exterior (a velha questão da predestinação).
Compreender a relação entre o Todo, a Parte e a Consciência é, portanto, o primeiro passo para quem quer estudar Astrologia.”
Helena Avelar e Luís Ribeiro in “On The Heavenly Spheres”