Pode o céu refletir o mal?

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Pode o céu refletir o mal?

Há pouco fiz algumas considerações sobre o mapa astrológico de Sara Aldrete (La Madrina), uma assassina em série mexicana envolvida com rituais de sacrifício, e resolvi recuperar algumas reflexões sobre Astrologia e Destino que já fiz ao longo do meu trabalho.

Em primeiro lugar, a Astrologia funciona por correspondência: as coisas do Céu refletem a Terra e vice-versa. Isso significa que o céu não influencia astrologicamente nosso mundo como é vendido por aí, ele simplesmente MOSTRA nossa realidade, sendo a Astrologia a linguagem que TRADUZ esse reflexo, a dinâmica dos astros. Não é uma relação de causa e efeito, portanto: a Astrologia nasce numa época muito anterior à perspectiva cartesiana, logo serve a outros propósitos, que não competem com este, mas coexistem em epistemes diferentes. Quem deseja compreender a razão-de-ser da Astrologia deve se inteirar das filosofias antigas, como o Hermetismo, o Estoicismo e o Neoplatonismo.

Em segundo lugar, neste sentido não apenas as coisas agradáveis e os problemas comuns são retratados, mas também as coisas crueis, e a culpa não é do Céu – não vamos esquecer que ele opera apenas como um espelho. Se não gostamos do que estamos vendo, negar a imagem do espelho não vai mudar a verdade. “Mas Guilherme, uma alma assim, que veio sob um céu configurado para o ‘mal’, não poderia mudar sua natureza?” Bem, uma alma que nasce sob um céu como este não poderia nascer sob outro céu. Você não é como é porque seu mapa é este, e sim seu mapa é este porque você é como é (sem mencionar aqui a importância do contexto social e geográfico, que ao contrário da Astrologia funciona por influência de suas inúmeras variáveis). Por alguma razão que não conhecemos, aquela alma em questão, seja por ações de outras vidas ou porque decidiu se ligar a maus espíritos no plano astral (entraríamos aqui no âmbito das crenças), encarnou naquele exato instante em que os astros contavam melhor sobre quem ela era, apontando para seu destino mais provável. A questão é que o destino não é como um labirinto de paredes de pedra (duro, imutável, incontornável), mas um labirinto vivo: possui uma forma a ser seguida, porém moldável até certo ponto. A simbologia de cada elemento astrológico é muito rica, e mesmo que ela tenda para alguma direção, temos a potência de explorar outras de suas próprias possibilidades. Isso é bastante observável em mapas de gêmeos que nasceram quase no mesmo momento. Ambos podem possuir Marte associado a Mercúrio ligando a vida pública à lei, ou seja, ambos vão batalhar com as palavras em prol de uma causa, mas enquanto um se torna advogado, outro se torna, quem sabe, um ativista dos direitos humanos.

Guilherme de Carli